Perfil | Vitória Cribb
Temos o prazer de iniciar uma nova seção em nosso site: os perfis de artista, na qual apresentaremos o trabalho de mulheres artistas convidadas acompanhados por uma entrevista, através da qual buscamos conhecer um pouco mais sobre as trajetórias, influências e vivências. Os perfis estarão reunidos na aba Trampolim do nosso site, junto outros conteúdos como visitas a ateliês, artigos e textos sobre mulheres artistas convidadas, de modo a impulsionar a visibilidade de seus trabalhos. Além dos perfis no site, as artistas serão também convidadas para participar de uma live no instagram da Piscina, que irá ao ar aos domingos, às 18h.
Estamos muito felizes de iniciar essa nova fase com a entrevista da artista carioca Vitória Cribb, que nasceu em 1996 na cidade do Rio de Janeiro e atualmente reside em Campo Grande, também no Rio. Na entrevista a seguir, Vitória nos conta sobre sua trajetória, sua pesquisa atual e suas perspectivas para o futuro.
Você pode contar um pouco sobre sua formação e trajetória? Como se deu a escolha de trabalhar como artista?
Eu sou estudante de Desenho Industrial pela Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ. Meu corpo de trabalho artístico começou de forma bem experimental e ele foi se desenvolvendo conforme a minha investigação em processos digitais e tecnológicos tanto na arte quanto no design. De 2015 até então eu venho experimentando a representação gráfica/visual em novas mídias tanto nos meus projetos pessoais e artísticos quanto em projetos de design imersivo com instalações digitais focadas no usuário desenvolvidas para instituições, eventos e/ou empresas. Em 2018/19 eu tive a oportunidade de me aproximar mais da área de game design onde desenvolvi alguns projetos em realidade virtual e aumentada. Nesse período comecei a me aprofundar e entender melhor a representação gráfica no que chamamos de “novas mídias” ou “novas realidades”. Meus trabalhos ja foram expostos em ZAZ10ts Gallery (Times Square, NY); Epicentre Exhibition, The Wrong Bienalle at Centre Del Carme y Cultura Contemporánea (Valencia, Espanaha); Ânima - CC Espaço (São Paulo - Brasil); Happening Começo de Século - Galeria Jaqueline Martins (São Paulo, Brasil); Valongo Festival Internacional da Imagem (Santos, Brasil);instalação ‘FastLine’ no ArtNight Festival London 2019 e no festival ARTECORE 2019 (RJ, Brasil).
Qual sua pesquisa atual e que trabalhos você tem desenvolvido nos últimos tempos?
Atualmente pesquiso a mescla da materialidade com a imaterialidade e seus diálogos enquanto convergem entre si. Através do hibridismo entre o real e o irreal investigo representações não palpáveis em uma sociedade onde a matéria física ainda se mostra de suma importância e define a existência humana e suas relações e busco explorar a potência da matéria digital/eletrônica enquanto ressignificação conceitual da nossa existência. Meus trabalhos perpassam as diferentes mídias, busco trazer a multidisciplinaridade nos meus projetos artísticos investigando o comportamento das novas tecnologias visuais e seus desdobramentos.
Quais fatos, trabalhos ou experiências mais relevantes/marcantes contribuíram ou afetaram de alguma forma a sua trajetória?
Alguns eventos específicas foram bastante relevantes para a minha trajetória tanto pela exposição em si quanto pela troca com artistas e curadores envolvidos. Acredito que as exposições, Epicentre e What Do We DO Now, parte da The Wrong Bienalle 2019/20, foram muito importantes pela troca com artistas internacionais e pela possibilidade de levar o meu trabalho à lugares bem distantes através das exposições online e offline; O happening Começo De Século com curadoria do Germano Dushá e assistência do Guilherme Teixeira também me ajudaram a dimensionar e encontrar outros possíveis caminhos pro desmembrar da minha arte; A exposição da obra Anthozoa na Galeria ZAZ10ts na Times Square também foi bem interessante não só pela dimensão da exposição como pela troca e construção com a equipe e curadoria via internet. Outro evento marcante também foi a minha participação no grupo de estudos Arte e Transdisciplinaridade ministrado pela curadora Gabriela Maciel onde aprofundei a experimentação em técnicas diversas dentro do meu trabalho de forma mais concreta. eventos específicos foram bastante relevantes para a minha trajetória tanto pela exposição em si quanto pela troca com artistas e curadores envolvidos.
Quais os trabalhos foram mais marcantes?
Difícil escolher quais foram as mais marcantes porque elas me tocam em lugares muito diferentes porém a série Tormento e as videoartes Conflitos Internos e Anthozoa são bem marcantes.
Quais são suas perspectivas? Como se vê daqui um tempo? Tem algum projeto que deseja realizar mais a longo prazo?
Minhas perspectivas atuais são encontrar uma forma de conseguir produzir minhas pesquisas de forma mais consistente dedicando mais tempo para isso. Tenho alguns projetos de exposição e séries artísticas que gostaria de desenvolver à longo prazo espero que daqui à algum tempo consiga ver algum desses projetos mais ambiciosos concretizado.
Que mulheres (artistas, escritoras, familiares e figuras públicas) foram/são influências e fonte de inspiração? Dentro do digital/eletrônico as artistas Sondra Perry, Sandra Mujinga e Tabita Rezaire me inspiram bastante a dar continuidade à minha pesquisa artística. Minha mãe, que curiosamente também se chama Sandra é uma das minhas principais referências de vida e a figura materna dela foi essencial para o meu desenvolvimento intelectual e pessoal. A força e determinação presentes nela profissionalmente, emocionalmente e no que diz respeito a criação e cuidados dos filhos sem dúvidas influenciou diretamente na forma como encaro os meus desafios e me projeto para o mundo. Algumas artistas sonoras também são fontes de inspiração para mim sempre gostei muito de como a Bjork performa personagens diversos e trazia mundos distintos para o seu trabalho assim como artistas mais novas como Oyinda e Kelela, que trazem consigo estéticas muito ricas visualmente para um cenário novo da música pop me estimulam na investigação da representação visual através das minhas vivências também enquanto mulher negra.
O que você faz para se sentir motivada em períodos de baixa/desânimo/bloqueio criativo?
Procuro não forçar a fluidez da criatividade e entender o tempo de reverberação dela exercitando a representação em mídias e técnicas que utilizo com menos frequência no núcleo da minha pesquisa artística.
Quais foram os maiores desafios enfrentados na sua trajetória até agora?
Dialogar com espaços artísticos institucionais e estar presente nessa esfera aqui no Brasil tem sido bastante desafiador. Acredito que a distância presente entre a mídia digital e o núcleo da produção artística brasileira contribua para isso, o que de certa forma é prejudicial para o desenvolvimento do meu trabalho enquanto pesquisa conjunta/construtiva. A venda de trabalhos no mercado de arte também tem se mostrado algo bem desafiador uma vez que no Brasil e no ocidente no geral ainda encontramos uma resistência em olhar para a mídia digital/eletrônica como um objeto de arte colecionável.
Como você enxerga seu papel como mulher artista no cenário artístico nacional?
Enquanto mulher artista presente e atuante no cenário artístico atual acredito que evidenciar as diferentes facetas do feminino é crucial. A criação feminina no Brasil ainda é vista com muitos pré conceitos calcados em um imaginário masculino reducionista em relação à figura feminina e romper esses lugares designado pelo outro é importante. Acredito que com à minha pesquisa atual onde exploro a tecnologia e a representação visual em novas mídias dentro do núcleo artístico consigo evidenciar a presença feminina em um espaço pré-estabelecido como masculino ressignificando esse lugar criacional da mulher em um futuro presente digital e virtual.
Qual o seu entendimento sobre a necessidade e importância de se ter iniciativas voltadas exclusivamente às mulheres e outros grupos minoritários?
Iniciativas voltadas para grupos ainda não ouvidos de forma correta em uma sociedade como o Brasil, além de aos poucos promover uma aproximação entre diferentes enunciadores dentro de um diálogo, promove a ressignificação de bases artísticas estabelecidas a partir de uma olhar estrangeiro. Acredito que iniciativas que colocam essas narrativas e criações e evidências ajudam a expansão conceitual do que nos é imposto como “normalidade subjetiva” evidenciando as diferentes verdades e mundos subentendidos na sociedade brasileira.