“Incônscios gestos", com curadoria de Mônica Ventura, trata de temáticas relacionadas à memória e à nostalgia, relacionando sentimentos de melancolia e felicidade presentes em sonhos que se repetem, como um dejà vu de paisagens fixas.
O material onírico produzido pelos sonhos busca restabelecer nossa balança psicológica, compensando as deficiências de nossa personalidade. Tudo que conscientemente deixamos de ver é, quase sempre, capturado pelo nosso inconsciente, que pode transmitir essas percepções através dos sonhos. Os sonhos têm carácter simbólico e são uma herança primitiva de camadas instintivas básicas. Em nosso processo civilizatório estamos cada vez mais distantes das camadas instintivas mais profundas da psique humana, deixando de compartilhar coletivamente a experiência vivida nos sonhos. A arte tem um lugar exclusivo que nos ajuda a desvelar percepções encobertas pelo inconsciente.
Neste recorte apresentamos 8 artistas que trazem em suas práticas artísticas diferentes temas que vão desde à memória até denúncias políticas. Entre as técnicas expostas estão pintura acrílica, gravura, xilo, desenho e técnicas mistas, como bordado e raspagem em papel.
São trabalhos sutis que trazem subjetividades e estão ligados em sua estética ao campo onírico.
Participam do projeto as artistas: Sônia Costa, Joyce Ara`i, Bianca Turner, Ana Takenaka, Ana Raylander Mártir, Bianca Leite, Mylena Monteiro, e Janaína Vieira.
Sonia Costa, formada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, concluiu também formação técnica em Artes Cênicas pela Escola de Teatro Macunaíma. Nascida no sul da Bahia vive e trabalha em São Paulo.
Nesta obra a artista explora a matéria do carvão para construir um universo em suspensão. O desenho realizado sobre tela, com a utilização de carvão e fita adesiva acontece de forma que os elementos parecem flutuar no espaço da tela, e concomitantemente às palavras, evocam diferentes temporalidades através da escrita e grafismos trazidos pela artista, os quais remetem ao universo de uma genealogia marítima.
A série de obras, nomeada Subtração, consiste em xilogravuras impressas em papel de fibra natural. Cada imagem, é feita a partir de uma imagem retirada do “Google Maps”, da região de Belterra, no Pará, e nomeada a partir de sua geolocalização, em latitude e longitude, como um registro histórico de como estava aquela região em 2021. No sudoeste global, as direções de latitude e longitude são sempre valores “negativos”, o que também dá ênfase ao que ocorre no território de áreas de preservação ambiental e reservas indígenas: a floresta e o território estarem sempre sendo subtraídos, reduzidos.
Esta obra foi realizada no início da pandemia, no momento em que reflexões sobre o Tempo e as camadas temporais que se sobrepõe à história da humanidade ao longo da existência permeavam o imaginário da artista. A inserção de um barquinho de madeira na composição do desenho acentua a relação da artista com o universo marítimo frequentemente presente em suas obras, que simboliza um veículo pelo qual se faz possível realizar inúmeras travessias existenciais, bem como acrescenta um tom lúdico à obra.
A série Trabalhos escolares surge quando a artista resgata os cartazes e as apresentações de trabalhos do período em que fazia o ensino regular: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. É um trabalho continuado que busca fundamentar a sua prática.
Bianca Leite é artista visual, educadora, pesquisadora lésbica e negra. Ao longo de dez anos, sua produção busca investigar o conceito de gênero a partir de reflexões ligadas à sexualidade da mulher. Em sua prática, afirma sua identidade negra, que se materializa em forma de auto retratos, desenhos, pinturas abstratas, esculturas e instalações, onde é possível encontrar referências às culturas afro-diaspóricas. As duas vertentes, amparadas por uma constante pesquisa em torno de teorias do feminismo negro, encontram-se dentro da sua obra de forma necessariamente interseccional.
Mylena (@m.lenas_), 22 anos, de Castanhal (Pará), cria do bairro do Milagre, formada em licenciatura em Artes Visuais na UFPA e atualmente cursando Mestrado em Artes também pela UFPA. Meu trabalho artístico é uma mistura das minhas pesquisas em Arte-educação e questões étnicos-raciais e a minha própria vivência, que visa trazer à tona dores e trocas da população preta da região Norte. Os recursos que mais utilizo são desenho, pintura e bordado, mas também experimentações com colagem. Sou integrante do coletivo estadual IlustraPreticePA desde 2018 e do coletivo nacional Trovoa, desde 2021.
Joyce Ara'i, é educadora e artista indígena (Mauá-SP/Recife-PE); através de linguagens variadas aborda temas como corpo, memória, encantos e ancestralidade.