"Por que não houve grandes mulheres artistas?" de Linda Nochlin

Dentre outras coisas, aqui no blog da Piscina iremos compartilhar ensaios, artigos, livros e notícias que trocamos entre nós em nossas conversa online. Como muita coisa acaba se perdendo, resolvemos deixar algumas destas leituras reunidas e registradas aqui para que mais gente possa ter acesso e também para que nós possamos consultar eventualmente. A ideia é inclusive deixar o canal aberto para que amigas, conhecidas e artistas possam compartilhar suas leituras e que possamos criar um banco de textos relevante e acessível. 

Para inaugurar o primeiro textos da Piscina, começaremos com o artigo Por que não houve grandes mulheres artistas?, de Linda Nochlin. Até maio de 2016, o texto escrito originalmente em 1971, na ARTnews, não tinha sido traduzido para o português. Felizmente, a edições Aurora editou e publicou o artigo, que teve tradução de Juliana Vacaro (autorizada e festejada pela autora).  Clique aqui para acessar o texto.

Em seu texto Linda Nochlin pontua que a pergunta "Por que não houve grandes mulheres artistas?" esconde a verdadeira natureza da questão e já pressupõe a própria resposta. Segundo a autora, nossa percepção de como as coisas são no mundo está condicionada e deturpada pela forma como enunciamos as questões e cabe a nós nos perguntarmos quem está formulando essas questões e a que propósito elas servem.

Deste modo a questão das mulheres nas artes não deve ser vista pelos olhos de uma elite dominante masculina, mas no lugar disso, "as mulheres devem se conceber potencialmente - se não efetivamente - como sujeitos iguais, e devem estar dispostas a olhar para os fatos de sua condição cara a cara, sem vitimização ou alienação".

Segundo Linda, de fato não houve nenhuma grande mulher artista como "não houve também nenhum grande pianista de jazz lituano ou um grande tenista esquimó, e não importa o quanto queríamos que tivesse existido. [...] não existem mulheres equivalentes a Michelangelo, Rembrandt, Delacroix, Cézanne, Picasso ou Matisse, ou mesmo nos tempos recentes a Kooning ou Warhol, assim como não há afroamericanos equivalentes aos mesmos." Se existissem, pelo que então as feministas estariam lutando?

As coisas nas artes e em outras áreas são desestimulantes e opressivas "para todos aqueles que, assim como as mulheres, não tiveram a sorte de nascer brancos, preferencialmente de classe média e acima de tudo homens", diz a autora. E o problema não estaria em nossos hormônios ou qualquer outro traço biológico ou psicológico, mas sim nas instituições e em nossa educação. 

As concepções falsas envolvidas na pergunta "por que não houve grandes mulheres artistas?" destacam suposições ingênuas e distorcidas sobre o fazer artístico, dentre as quais Linda aponta a mitologia do "Grande Artista", - o ser único, precoce, dotado de um grande talento e uma aura mágica -, como sendo uma das principais. Esse tipo de mitologia do gênio artístico deixa em segundo plano as influências sociais, contexto histórico e estruturas institucionais nas quais o artista tenha vivido e contribui para a "naturalização" da concepção de que a falta de êxito das mulheres nas artes se dá pois estas não possuem talento para a arte.

Caso fossem avaliadas as reais condições na qual a produção de arte se deu, perguntas mais interessantes poderiam ser feitas, tais como: de que classes sociais era proveniente a maior parte dos artistas em diferentes momentos históricos? Qual é a proporção de artistas que veio de famílias nas quais seus pais ou parentes próximos eram artistas? Por que  não houve grandes artistas oriundos da aristocracia? 

Considerando que as habilidades ou inteligências são construídas desde o momento em que uma criança vem ao mundo, caberia aos estudiosos e historiadores de arte abandonar a noção de que a grande arte provém do gênio individual com habilidades inatas e examinar que o contexto social e os elementos da estrutura social determinados por instituições específicas, pressupõem o desenvolvimento, a natureza e a qualidade do fazer artístico.  . 

Vale muito a pena a leitura! 

Você pode fazer o download do pdf ou adquirir a versão imprensa por apenas 8 reais aqui neste link

Paula