Porvir

 
 

O lançamento da Piscina #1 não poderia existir sem uma exposição coletiva. Uma publicação que teve mais de um ano de desenvolvimento e que contou com a participação de mais de 75 colaboradores, entre artistas, curadores e pesquisadores, baseada em trocas, não poderia ser lançada com um evento encerrado em si mesmo. A Piscina #1, é o resultado da reunião de muitas vozes, pensamentos e práticas, assim como esta exposição, que tem como título o tema da publicação e apresenta trabalhos de 20 artistas que integram a primeira edição da revista anual da Piscina, plataforma que atua desde 2015 se dedicando a pesquisar e difundir a prática de artistas mulheres e pessoas não binárias. 

Embora tenha tido início anos antes, a reflexão que deu origem a essa publicação emergiu no início de 2023. Naquele momento, após quatro anos submersos, com a vista embaçada, o sentimento era de que enfim era possível chegar à superfície, tomar fôlego, ver a luz e respirar. Foi essa sensação que motivou os questionamentos sobre como poderíamos então pensar o futuro dali em diante, pois, apesar do alívio e da sensação de luz no fim do túnel, sentíamos que também era preciso estarmos atentos, cuidar e ter cuidado. 

Em seu texto, Decolonizar o museu – Programa de desordem absoluta (Ubu, 2023), Françoise Vergès nos conta: "Não estamos falando de sonhar com um futuro tão distante que ele acaba se tornando abstrato nem de negar as lutas presentes [...]." Segundo a autora, temos que nos informar sobre as lutas pela dignidade e pela vida, por mais "pequenas e insignificantes" que estas sejam e "aprender com elas a nos organizar e realizar um trabalho de imaginação urgente, resgatando utopias emancipatórias e pragmáticas e criando mais instituições pós-racistas, pós-patriarcais e pós-capitalistas."

A Piscina #1 busca justamente exercitar esse trabalho de imaginação urgente, reunindo ideias, criações e especulações sobre um futuro possível. Aqui nesta exposição, temos um recorte com trabalhos de 20 das 55 artistas que integram a narrativa visual presente na publicação. Os trabalhos dessas artistas são como fios condutores que nos auxiliam a fazer conexões entre as suas poéticas, as reflexões e os textos que compõem a edição. Algumas das aproximações aqui presentes já estavam dadas nas páginas da publicação, enquanto que outras vizinhanças foram pensadas ao longo do período de planejamento e montagem da mostra.

Durante o desenvolvimento desse projeto, foi bonito perceber a confluência de ideias e compreender que estamos falando de um lugar em comum. E, mesmo sem todas as respostas para o que há de vir, é importante notar que, em um mundo em pedaços, em que uma base comum a respeito do que é verdade e o que é mentira parece algo de um passado remoto, o ato de pensar junto, de reunir pessoas para um único fim – seja ele um texto, uma manifestação, um abaixo assinado, uma exposição, ou uma publicação – é, por si só, um ato potente, uma tentativa de imaginar e criar uma linguagem comum, de juntar pessoas que estão, por meio de seus trabalhos, de suas ideias e de suas ações diárias, criando as bases para o futuro que iremos dividir e legar para os que vêm depois de nós. 


Porvir

Curadoria e texto: Paula Plee
Revisão: Ana Roman
Produção: Gruta e Paula Plee
Expografia: Nathalia Duran
Montagem: Andre Djanikian
Assistência: Victor Lacerda
Realização: Gruta

Agradecimentos: Quadra Galeria, Arte Fasam, Galeria Marli Matsumoto, Galeria Luisa Strina, Galeria Simões de Assis, Galeria Millan, Gomide & Co.

Um agradecimento especial às artistas e a todos os amigos que fizeram parte do processo de desenvolvimento dessa exposição. Sem vocês não seria possível <3