Mergulhos – Manu Costa Lima na Residência Piscina

Manuela Costa Lima, Éden, 2023 [detalhe]

Durante os meses de fevereiro e março de 2023 a  Piscina – Plataforma para mulheres artistas, convidou a artista Manuela Costa Lima para ocupar o espaço Fidalga 175, dando início ao primeiro programa de residência e acompanhamento artístico da plataforma. No período de 31 de março a 15 de abril, durante e após a SP-Arte, o público poderá visitar o espaço e ver de perto os resultados da pesquisa realizada pela artista, que apresenta uma instalação em grande escala e trabalhos site-specific desenvolvidos ao longo do período de residência. Como parte da programação oficial da feira, no dia 31 de abril, sexta-feira, a partir das 18h, a plataforma promoverá uma conversa entre a artista, a curadora Paula Borghi, os colaboradores da Piscina Ana Roman e Victor Lacerda e Paula Plee, fundadora e diretora artística da plataforma.

A prática de Manuela Costa Lima se dá de maneira relacional e experimental. Caminhadas, deambulações e uma exploração ativa dos locais por onde passa, são características intrínsecas em seu trabalho, bem como a relação com o tempo e com a imprevisibilidade, sempre questionando a lógica racional definidora dos espaços e da cidade. "Essa intersecção entre coisa viva, caótica e entrópica e a grelha ordenadora, usada para construir, para mim definem a cidade. Muitos trabalhos meus partem desse cruzamento”, revela a artista. 

Detalhe de uma das obras da série Infiltrados, de Manu Costa Lima, 2023. Foto: Paula Plee.

Detalhe da obra Shopping Chão, de Manu Costa Lima, 2023. Foto: Paula Plee.

A  ocupação inicial do espaço partiu de um trabalho de grandes dimensões, derivado de uma pesquisa anterior com grades e portões de diferentes cores e tamanhos coletados pela artista. Ao se instalar no galpão da Fidalga 175, porém, o próprio espaço e suas especificidades foram cruciais nos rumos deste e dos novos trabalhos ali desenvolvidos. Localizado no número 175 da Rua Fidalga, na Vila Madalena, o local costumava abrigar um antigo estacionamento e, somente a partir de 2022, o espaço começou a ser ocupado por ações artísticas, e tem atualmente coordenação da curadora Ana Roman, que é também uma das colaboradoras da Piscina. 

Um dos principais processos realizados pela artista durante o período em que ocupou o galpão foi uma espécie arqueologia do local: a artista se dedicou a escavar e a retirar detritos que ocupavam a construção – que funcionou como um estacionamento por alguns anos, e conta com uma pequena área verde nos fundos, bem como parte de uma construção inacabada. A partir destas ações, próprias de sua prática artística, Manuela Costa Lima encontrou objetos que evidenciam o uso anterior do espaço: luminosos, bobinas de papel, flanelas, placas de sinalização e outros elementos que foram cuidadosamente recolhidos e organizados pela artista, originando um dos trabalhos reunidos na exposição/ateliê aberto: Shopping Chão (2023). 

Para além dos processos de deslocamento e reorganização, Costa Lima opera na transformação dos objetos encontrados: em Éden (2023), a artista cria um sistema vivo composto por terra, galhos de árvores encontradas no local, um vaporizador e uma lâmpada de LED, instalado pela artista dentro de um luminoso de estacionamento encontrado no local. "Eu criei esse microbioma original, e é por isso que o chamei de Éden. Existe esse galho, que potencialmente poderá crescer lá dentro. É um microclima encerrado dentro desse caixote precário", explica a artista.

O aspecto quase que arqueológico, de descoberta e coleta de materiais, que acompanha o processo de Manuela Costa Lima desde o início de sua prática artística, está presente na instalação site-specific Cortina de Ferro (2023), trabalho que foi o ponto de partida para a ocupação do galpão, composto por grades e portões de diferentes cores e tamanhos organizados em duas fileiras, e que servem como um anteparo ao olhar do espectador que adentra o espaço, alterando a percepção deste. 

Detalhe de obra da série Infiltrados, de Manu Costa Lima, 2023. Foto: Paula Plee.

Em distintos pontos do espaço, instalam-se ainda os trabalhos da série Infiltrados, desenvolvidos pela artista desde 2016. Os elementos lineares, feitos de lâmpadas led tubulares que, como organismos vivos, se apropriam dos locais onde se inserem, criam circuitos que se infiltram na arquitetura e transpassam os limites entre público e privado. No contexto do galpão Fidalga 175, eles não só  se infiltram pela arquitetura local, como também conduzem o visitante em um percurso pelo espaço.

Ao visitar a exposição, o visitante pode entrar em contato com os procedimentos, ações e processos presentes na prática artística de Manuela Costa Lima que, através dos trabalhos, propõe uma relação entre a escala da arquitetura do galpão e os distintos elementos da cidade. O interesse da artista em ressignificar a ruína e o construído, bem como a criação de sistemas que se conectam tanto no espaço como também no âmbito subjetivo, resultam em uma prática que funciona como um organismo vivo,,que se mantém em constante troca com o seu ambiente circundante, que contamina e por ele é contaminado. 

Serviço:

Mergulhos: Manu Costa lima na residência Piscina

exposição/ateliê aberto
31 de março a 15 de abril
*visitas mediante agendamento

abertura e conversa com a artista e curadoras
[circuito oficial SP-Arte]
31 de março, 18h–21h